Não basta lembrar que Jesus está vivo entre nós, como consequência do seu Natal que celebramos recentemente. Muitos teem com frequência o nome de Jesus nos lábios, mas não conhecem este Jesus na profundeza de seu mistério.
Jesus é, para a maioria dos católicos, apenas uma lembrança herdada de tradições familiares, não porém calcada na alma com o vigor da fé evangélica.
Grande número de nossos fiéis nem sequer se deram à curiosidade de ler e aprofundar, por exemplo, o prólogo do Evangelho de João, que é a revelação fundamental e mais bela sobre Jesus Verbo Encarnado.
É imprescindível ler e meditar, rezando, esta página, para sentir quem é Jesus que nasceu para nós. Já citamos, em artigo anterior, os textos essenciais sobre o Verbo que se fez carne. Mas alguns outros tópicos foram omitidos e que merecem ser meditados.
Retomemos Jo 1, 3-6: “Ele estava no princípio junto de Deus. Tudo fora feito por meio dele, e sem ele nada foi feito de tudo o que existe. Nele estava a vida e a vida era a luz dos homens. E a luz brilha nas trevas e as trevas não a compreenderam.”
São fulgurantes estes tópicos. Devem penetrar fundo em nossos corações. Que nos dizem eles?
Primeiro, que o Verbo, antes de se encarnar e ser Jesus, estava junto de Deus. A Bíblia Ecumênica (Ed. Loyola, 1994) dá-nos uma tradução que merece ser considerada. É esta: “Ele estava, no início, voltado para o Pai.” É a atitude de relacionamento divino do Filho único com o Pai. Exprime o “ser” do próprio Verbo. Os Padres da Igreja diziam que o “ser”do Verbo consistia em esse ad Patrem, o que significa estar volvido para o Pai. Belíssima explicação que nos chama a contemplar o Verbo de Deus!
E ao dizer o texto, na sequência, que “tudo foi feito pelo Verbo e que sem ele nada foi feito”, exprime-se que o Verbo (Logos em grego) é a Sabedoria. Sem sua infinita Sabedoria, como haveria Deus de criar do nada as maravilhas do universo? Pondera Santo Atanásio: “Porque, se o movimento dos seres criados se fizesse desordenadamente e o mundo girasse ao acaso, com toda a razão se negaria crédito ao que declaramos. Mas, se com medida, sabedoria e ciência o mundo foi criado e enriquecido de toda beleza, não há como fugir que este criador e aperfeiçoador é o próprio Verbo de Deus.”
Atente-se agora para o que diz depois o texto: “No Verbo estava a vida e a vida era luz.” Que vida? Que luz?
Sem dúvida, a vida que estava no Verbo era a vida de Deus. Vida substancial, fontal, sem a qual nenhuma vida existiria no universo.
Esta vida é também luz, para iluminar as criaturas humanas, que não conheciam o seu Deus verdadeiro. Por isso, continua o texto: “E a luz resplandece nas trevas, e as trevas não compreenderam”. (Jo 1, 5)
O evangelista evoca que o mundo era trevas em contraposição à luz. Trevas do paganismo, do pecado, da idolatria, da ignorância de Deus. O mundo não tinha noções da divindade, que “habita numa luz inacessível” (1Tim 6,16)
Esta luz, que não podia ser vista tornou-se acessível em seu Verbo que se encarnou e se fez homem. Diz o evangelista: “Nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens, e a luz brilha nas trevas e as trevas não a compreenderam.”(Jo 1, 4 e 5)
A tradução dessa passagem evangélica não pode ser, como muitos textos traduzem: “A luz brilhou nas trevas.” A Nova Vulgata latina reza: “et lux in tenebris lucet” ( no presente), e não luxit ( que é pretérito do verbo lucere ).
Lucet-brilha significa que o Verbo de Deus está sempre a brilhar, desde a eternidade. Luz que não se apaga. Mas, mesmo iluminando sempre, os homens não a enxergaram, quando ela chegou no mundo em forma humana.
Hoje ainda, celebrando o Natal, grande número de católicos continuam nas trevas do consumismo, das práticas supersticiosas de uma religião às vezes misturada com espiritismo. Não celebram a Luz, nem recebem a Vida de Deus.
Os versículos 12-14 de João põem às claras o que é receber a Vida, o Verbo, que Jesus Filho de Deus Encarnado vem nos trazer. Ele ensina: “Todos quantos, entretanto, o receberam, ele lhes deu o poderem tornar-se filhos de Deus: é isto o que acontece aos que crêem em seu nome. Eles foram gerados não do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus.”
Esta é a Vida que o Verbo que se tornou Jesus veio trazer às criaturas humanas: fazê-los filhos de Deus. Não filhos pela carne e pelo sangue, como a vida natural que já temos . Trata-se da vida sobrenatural, “participação da natureza divina”, como ensinou mais tarde o Apóstolo Pedro.(2 Pe.1,4)
Noutros termos, é a vida da graça de Deus. Esta graça está em Jesus na sua plenitude. Por isso, conclui o evangelista: “De sua plenitude todos nós recebemos, graça por graça.”(Jo 1, 16).
Jesus, Verbo Deus entre nós, é um grande mistério. A Igreja, através de seus teólogos e doutores, sempre denominou este mistério Encarnação.
Ensina-nos o CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA: “Retomando a expressão de S. João (“O Verbo se fez carne”(Jo 1,14)) a Igreja denomina “Encarnação” o fato de o Filho de Deus ter assumido uma natureza humana para realizar a nossa salvação.”( n. 461), E, em o n. 463: “A fé na Encarnação verdadeira do Filho de Deus é o sinal distintivo da fé cristã: “Nisto reconheceis o Espírito de Deus: Todo espírito que confessa que Jesus Cristo veio na carne é de Deus”.(1Jo 4,2). Esta é a alegre convicção da Igreja desde seu começo, quando canta “o grande mistério da piedade”: “Ele foi manifestado na carne.”(1 Tm 3,16)
Não se pode confundir Encarnação com Reencarnação, entendendo com os kardecistas que Jesus se reencarnou, procedente de outras encarnações, nas quais se purificou até se tornar o mais perfeito e elevado espírito da raça humana. Este modo de pensar é grosseiro entendimento. Não há reencarnações, nunca se deram, como cientificamente já foi provado. (Cf. Geraldo E. Dallegrave – REENCARNAÇÃO, Ed. Loyola, pgs. 24 a 26; 32 a 37 inclusive; 52 a 60.)
Muito diferente o ensino da Igreja a respeito da Encarnação. A Igreja professa, no Credo rezado ou cantado nas Missas mais solenes, a respeito do Verbo divino: “Et incarnatus est de Maria Virgine et homo factus est.”
O Verbo Filho de Deus tornou-se homem no seio da Virgem Maria. A natureza humana incorporou-se nele. Ele uniu nossa humanidade à sua divindade. E, como ensina o Apóstolo Paulo, o Verbo feito homem tornou-se “o primogênito entre muitos irmãos.” (Ro 8,29)
É bom que se leia todo o texto do Apóstolo, a partir do v. 28: “Sabemos que tudo contribui para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu desígnio. Pois aos que ele conheceu desde sempre também os predestinou a se configurarem com a imagem de seu Filho, para que este seja o primogênito numa multidão de irmãos.”
Esta a doutrina verdadeira, que nos enche de felicidade, emoções e gratidão ao comemorar o Natal de Jesus. Somos filhos de Deus, irmãos de Jesus Cristo e predestinados à salvação.
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